A primeira demo do NIRVANA
A primeira demo do NIRVANA completa 32 anos hoje desde a sua gravação. Essa fita foi a responsável pela primeira matéria sobre o Nirvana em uma revista, pela primeira musica da banda tocada na rádio e pelo primeiro contrato com uma gravadora. Foi o incio da escalada do Nirvana (que ainda nem se chamava Nirvana). Abaixo, conheça um pouco da história dessa primeira demo do NIRVANA:
A primeira demo do NIRVANA
Durante o ano de 1987, Kurt Cobain tinha dezenas de canções e estava ansioso para gravá-las. Depois de ler um anúncio do Reciprocal Recording, um estúdio que cobrava apenas vinte dólares por hora para gravação, ele marcou uma sessão para Janeiro de 88 com o produtor em ascensão, Jack Endino. Endino não tinha a menor ideia de quem era Kurt e anotou na agenda “Kurt Cobain”.
No dia 23 de Janeiro de 1988, o amigo de Krist Novoselic, Eric Harder (dono da Radio Shack) levou a banda e todo seu equipamento até Seattle em um furgão forrado de sarrafos e aquecido por um fogão a lenha. Parecia um cabana da roça carregada para dentro de uma pick-up, e era isto mesmo o que era. Ao entrar na cidade grande eles pareciam a Família Buscapé, com fumaça de lenha saindo pela traseira da carroceria; o caminhão estava tão carregado que raspava nas saliências da pista.
O Reciprocal era administrado por Chris Hanszek e Endino. As bandas Mudhoney, Soudgarden e Mother Love Bone haviam trabalhado lá e o lugar já era lendário em 1988. O estúdio em si tinha apenas 83 metros quadrados, com uma sala de controle tão minúscula que três pessoas não conseguiam se acomodar dentro dela ao mesmo tempo.
“Os carpetes estavam gastos, os lambris das portas estavam todos se soltando e haviam sido pregados de volta algumas vezes, o que demonstrava sua idade. Dava para ver que o local tinha as marcas de 10 mil músicos que haviam esfregado os cotovelos por ali.” – Chris Hanszek
No entanto, para Kurt e Krist era exatamente aquilo que eles estavam procurando: Tanto quanto desejavam uma fita demo, procuravam estar na mesma liga que as outras bandas. Kurt sempre afirmou ter encontrado Jack Endino e o Reciprocal através de uma comparação de preços que viu na revista The Rocket Magazine, mas os amigos afirmam que ele escolheu o Reciprocal porque foi o lugar onde seu disco favorito na época tinha sido gravado. Seria ele o EP Screaming Life do Soundgarden, lançado em 1987. Como disse Crover em entrevista para Michael Azerrad: “Kurt realmente queria gravar lá porque ele gostava muito do som da gravação do Soundgarden”. Rapidamente dispensaram as apresentações e passaram a gravar quase imediatamente.
Todas as faixas foram gravadas em um Otari ½” 8-track (MX 5050 MKIII) em 15 IPS, sem redução de ruído. Em menos de seis horas, gravaram e mixaram nove canções e meia. As gravações foram feitas provavelmente até as 3:30/4:00 horas, as mixagens até às 5:30 e ficaram prontas lá pelas 6:00. As musicas eram: “If You Must”, “Downer”, “Floyd the Barber”, “Paper Cuts”, “Spank Thru”, “Hairspray Queen”, “Aero Zeppelin”, “Beeswax”, “Mexican Seafood” e “Pen Cap Chew” (aquele “fade ending” da última música – quando ela vai acabando e o volume diminuindo – foi adicionado porque o rolo de fita acabou durante a gravação e a banda não tinha os trinta dólares adicionais para outro rolo).
Endino ficou impressionado com a banda, mas não muito abertamente. Ao fim do dia ele ainda foi generoso o suficiente para cobrar por apenas cinco horas, a um custo de US$ 152,44. Kurt pagou pela sessão com o dinheiro que ganhou trabalhando como zelador no Weatherwax High School.
“Foi tão rápido que eu quase não lembro de falar com eles. Foi uma das sessões mais rápidas que já fiz. Eles tinham que voltar para Tacoma e não tinham muito dinheiro para gastar. Eles tinham pressa.” – Jack Endino.
O furgão foi então recarregado com o equipamento e a banda se dirigiu para o sul — neste mesmo dia eles tinham um show programado para o Community World Theater de Tacoma. Durante o percurso de uma hora, ouviram duas vezes a fita demo.
Antes de irem, Endino convenceu a banda a lhe deixar com a fita master e fazer uma copia para ele. Mas ao invés de uma, ele fez várias copias e enviou para amigos como Dawn Anderson da revista Backlash, Shirley Carlson da Radio KCMU e Jonathan Poneman da Sub Pop Records.
Essa fita foi a responsável pela primeira matéria sobre o Nirvana em uma revista (justamente na revista Backlash). Foi a responsável pela primeira musica da banda tocada na rádio (justamente na Radio KCMU). Foi a responsável pelo primeiro contrato com uma gravadora (justamente na Sub Pop Records). Essa fita foi o incio da escalada do Nirvana, que ainda nem se chamava Nirvana e sim Ted Ed Fred.
00:00 – “If You Must”
03:46 – “Downer”
05:22 – “Floyd the Barber”
07:28 – “Paper Cuts”
11:19 – “Spank Thru”
14:37 – “Hairspray Queen”
18:50 – “Aero Zeppelin”
23:30 – “Beeswax”
26:20 – “Mexican Seafood”
28:15 – “Pen Cap Chew”
Curiosidades
Kurt Cobain simplesmente odiava a musica “If You Must”. Em carta escrita a Dale Crover em certa ocasião, ele disse:
“A primeira musica da demo nós não tocamos mais, é nauseante e estupida. Destrua isso, é horrível. Nos moldes de Whitesnake e Bon Jovi.”
Talvez devido a essa “repulsa”, a musica não foi lançada oficialmente até 2004, quando apareceu no box With the Lights Out.
Jonathan Poneman levou a primeira demo do NIRVANA a seu sócio, Bruce Pavitt, em seu emprego diurno na Muzak Corporation. A sala de reprodução de fitas da Muzak era, curiosamente, o emprego diurno predileto de muitos membros da elite do rock de Seattle. Poneman fez uma audição da fita para os presentes, entre os quais Mark Arm, do Mudhoneyy. Eles lhe deram o polegar abaixado, com Arm desqualificando o grupo como “similar ao Skin Yard, mas não tão bom”.
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