Washington Music Industry Coalition Benefit (11/09/1992)
No dia 11 de setembro de 1992 o Nirvana estava no Seattle Center Coliseum para o show Washington Music Industry Coalition Benefit. Confira tudo o que rolou há exatos 26 anos em Seattle:
Washington Music Industry Coalition Benefit
O Nirvana estava promovendo o show beneficente para combater um projeto de lei de censura musical apresentado na Washington State Legislature (Assembléia Legislativa do Estado de Washington). A decisão de participar de shows beneficentes, principalmente em favor de organizações de homossexuais e de defesa do direto ao aborto (como o No on 9 Benefit), por exemplo, rendeu uma bagagem extra que Kurt Cobain não esperava. Em 1992 ele estava recebendo ameaças de morte. “Eram principalmente shows pelo direito á vida. Depois das ameaças, passamos a usar detectores de metais”, lembrou o tour manager, Alex MacLeod. Um dos telefonemas com ameaças de morte advertia que Kurt seria baleado no momento em que pisasse no palco.
O Evento – Washington Music Industry Coalition Benefit
O show beneficente Washington Music Industry Coalition Benefit aconteceu na sexta-feira, 11 de setembro de 1992, no Seattle Center Coliseum, em Seattle, WA. Foi o único show do Nirvana no local durante toda a carreira. O show foi inicialmente marcado para acontecer no dia 23 de agosto. Mas com o nascimento de Frances Bean Cobain, a data foi adiada. Originalmente as bandas Fitz Of Depression e Screamin’ Jay Hawkins tocariam na mesma noite. Porem, com o adiamento, o Screamin’ Jay não pode tocar, dando lugar para o Helmet, que já havia tocado com o Nirvana no dia anterior.
Os Bastidores – Washington Music Industry Coalition Benefit
Quando Kurt chegou ao Seattle Center Coliseum o local já estava com seus 16 mil lugares esgotados. Ele encontrou a mãe Wendy, a irmã Kim e a meia-irmã Brianne em seu camarim. Era a primeira vez que eles viam Kurt com a filha, Frances. “Ele estava tão entusiasmado e parecia um paizão!”, lembrou Kim. “Ele simplesmente adorava Frances. Ele fazia qualquer coisa para fazê-la sorrir ou dar risadas.”
Enquanto a família idolatrava Frances, Kurt ouvia as ultimas noticias de seu tour manager. Mais ameaças de morte haviam sido recebidas; o Fitz of Depression encontrara problemas na passagem de som; e havia dezenas de jornalistas esperando para entrevistá-lo. Kurt acabou condescendo. Entretanto, exatamente quando julgava que havia se livrado de todos os problemas, Kim chegou correndo em pânico com uma crise que Kurt não esperava. “Papai está aqui”, exclamou ela. “Que porra ele está fazendo aqui?”, praguejou Kurt.
Don Cobain conseguiu acesso aos bastidores mostrando sua carteira de motorista e identidade da Patrulha Estadual a um segurança. “Mas está tudo certo”, disse Kim, tranquilizando Kurt. “Eu disse a ele que não estavam deixando ninguém entrar nos camarins.” Claro que era mentira, já que até bandas secundárias da Sup-Pop estavam andando por ali tomando cerveja de graça. Kim advertiu o chefe de segurança para não deixar Don chegar perto de Kurt. Fazia oito anos que Kurt não via o pai e não falava com ele desde fevereiro de 1991. Don tentou entrar em contato com Kurt, mas a relação entre ambos estava tão distante que ele nem sequer tinha o numero de telefone do filho. Chegou a deixar recados com vizinhos e recepcionistas da gravadora.
Don entrou no camarim com Chad, o meio-irmão de Kurt. “Ah, oi, papai”. disse Kurt, mudando seu tom de voz para esconder a raiva que ele havia demonstrado momentos antes. Pela primeira vez numa década, os quatro Cobain originais (Don, Wendy, Kurt e Kim) estavam juntos em uma sala. O clã agora incluía mais dois meio-irmãos, Courtney e um casal de empregados de Kurt. Frances Bean Cobain, com três semanas de vida (arrulhando e resmungando enquanto era passada de um parente a outro), era a única indiferente a toda essa tensão: para todos os demais, era como a sessão de pesagem para uma controvertida luta de boxe. A novela da família Cobain não desapontou os espectadores. Quando Don viu Wendy segurando Frances, disse: “Ora, olá, vovó”, enfatizando o “vovó” como se fosse uma ofensa. “Como se sente em ser vovó?”. “Ótima, vovô” respondeu Wendy no mesmo tom sarcástico. “Eu adoro isto, vovô”.
O que em muitas famílias poderia ter sido uma conversa bem humorada ou sentimental se convertia em um incômodo confronto. Mais de dezoito anos haviam se passado desde que Don e Wendy tinham se divorciado, mas, de repente, a família original voltara emocionalmente a rua First, 1210, leste, em Aberdeen, e a relação entre mãe e pai estava inalterada. Para Kurt, era uma junção de sua nova família com as feridas da original. “Era tipo ‘Ai, meu Deus, de novo não’.”, lembra Kim.
A única dinâmica diferente era o papel de Kurt (ele não era mais o garoto pequeno e desamparado. Ele tinha se tornado – com 16 mil fãs apaixonados esperando do outro lado da parede – o patriarca). Courtney nunca havia encontrado Don antes e ficou muda observando o quanto ele se parecia com o filho. Don tinha a beleza rude de um Steve McQueen de meia-idade. Kurt, porém, não estava sem palavras, particularmente para seu sósia mais velho: “Você, cale essas maldita boca”, gritou ele para o pai, com a maior energia com que já havia falado em sua vida, usando uma imprecação que em sua infância ter resultado em um “safanão” na têmpora. “Não fale com ela desse jeito. Não a humilhe.” Rapidamente, Wendy, Kim, Courtney e Brianne saíram da sala. “Nossa, você parece velho”, disse Kurt a seu pai quando se acalmou. Ele imediatamente supôs que Don estava ali para pedir dinheiro. “Eu não queria nada”, lembra Don. “Eu só queria estabelecer contato com ele. Eu disse: ‘Se você está contente, se divertindo, isso e ótimo. Só não deixe de tentar manter contato.”
Kurt assinou um cartaz para seu meio-irmão Chad (que Kurt apresentou a todos como “seu meio-irmão”), para grande consternação de Don, e quando o gerente de produção Jeff Mason o encaminhou para o palco, Kurt teve apenas alguns segundos para deixar a família para trás e se tornar “Kurdt Kobain”, o astro do Rock, seu alter ego. Ele estava prestes a pisar no palco do mesmo auditório em que havia visto seu primeiro concerto de rock, Sammy Hagar com o Quarterflash, apenas dez anos antes, embora parecesse uma eternidade. Mason e Kurt sempre usavam essas breves caminhadas para discutir detalhes do show ou entrar no clima. Esta era uma das poucas vezes que Kurt fez aquele longo percurso até o refletor em silêncio absoluto. – de Heavier Than Heaven
O Show – Washington Music Industry Coalition Benefit
O show em si foi fenomenal, o melhor que o Nirvana já havia feito em Seattle. Desaparecera o ar antiquado de Reading Festival e Kurt parecia um homem com um desejo ardente de converter todos os descrentes. Centenas de garotos surfavam na platéia, desabando das barricadas com lêmingues de cima de um precipício. No inicio, Kurt lembra: “Uau, você sabe que vi Sammy Hagar aqui há cerca de 10 anos!”. Dave Grohl: “Krist foi expulso daqui cerca de um ano atrás!”. Kurt: “Oh sim, você está banido por toda a vida daqui”. Krist: “Sim!” Kurt: “Você teve problemas no show do Sonic Youth, não foi?” Dave: “O rosto de Krist está em uma foto Polaroid no escritório, ‘banido por toda a vida’!”. Durante a tipica destruição dos equipamentos, Krist adverte o publico: “Vocês podem sair porque, nós vamos aqui por um tempo ainda”. Infelizmente o show não está disponível na integra em vídeo, mas deixo aqui as capturas que se pode encontrar na internet:
Áudio do Show
Abaixo, o áudio do show no Washington Music Industry Coalition Benefit, lançado no bootleg “Banned For Life”. Apesar de ser gravado da platéia (e não diretamente da mesa de som), tem uma ótima avaliação entre os fãs pela razoável qualidade de som.
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