Kurt Cobain Se Despede Do Brasil
Kurt Cobain se despede do Brasil no dia 24 de Janeiro de 1993. Naquele dia, ele foi entrevistado por Marcel Plasse, para o jornal O Estado de São Paulo.
Como uma criança arteira, Kurt contou à Plasse sobre suas suas traquinagens com orgulho. Saber o poder da Rede Globo no Brasil só o deixou ainda mais orgulhos de cenas como a cusparada e masturbação que foram transmitidas ao vivo na noite anterior.
A entrevista foi impressa na edição do dia 26 de Janeiro, com o titulo:
"Kobain perde composições e parte angustiado"
O vocalista do Nirvana que mudou de novo a grafia do nome, chora pelas letras que perdeu no Rio e ri ao falar da cusparada nas câmeras da Globo e da quebradeira que promoveu em São Paulo.
Rio, Kurt Kobain, essa é a mais recente alteração em sua assinatura, não consegue se decidir como escrever seu nome. É uma figura de ficção, inventada pela mídia. O Sid Vicious do Hollywod Rock. “A mídia não tem a intenção de divulgar a realidade, porque o grande público não tem capacidade de compreender as contradições de uma pessoa real. Prefere as coisas sensacionais … se eu me drogo ou brigo com a minha mulher. Eu costumava me irritar com isso, mas agora não me importo mais.” Só fica mórbido. E frágil.
Toda a angústia acumulada em sua passagem pelo Brasil o inspirou a escrever letras e mais letras para o novo álbum. Ele estava feliz, minutos antes de embarcar para o aeroporto. Os olhos azuis brilhavam de satisfação com o que tinha criado de sua dor. Infelizmente, todas as letras sumiram. Kurt saiu do país arrasado.
Na única entrevista que deu após o show de cuspidas do festival, Kurt não parecia um monstro. “Só estava tentando fazer um espetáculo de mim”, disse sobre seu comportamento escatológico. “Decidi ser um babaca.” Ele repensa a atitude: “Não gosto de TV. Não sabia que nosso show ia ser televisionado. De repente, vi câmeras se mexendo na minha frente. Me incomodou.” Kurt abre um sorriso ao ser informado sobre o poder da Rede Globo. “Quando destruo minha guitarra perco muito dinheiro. Quase todo o que ganhamos em São Paulo foi para o lixo com o nosso equipamento. Cuspir numa câmera não me custa nada.” Mas a coisa não ficou só em cuspidas. Teve masturbação ao vivo. “É engraçado fazer TV ao vivo porque você faz o que quiser e é tudo exibido”. Ri. O show paulista, demolidor, foi, segundo ele, “divertido”. Kurt ri ao falar da quebradeira: “Só queria continuar fazendo barulho. Não conseguia parar”.
Nirvana não deve voltar a excursionar por um bom tempo. “Tenho bronquite. Normalmente, depois de duas semanas em turnê, sinto dores muito grandes no peito. Tusso muito. Tenho um problema de estômago também.” Um médico chegou a atendê-lo na véspera do show carioca. A prioridade agora é o novo disco. Antes, a mudança de Los Angeles para Seattle e a gravação de outro clipe, Sliver, para promover a coletânea Incesticide, lançada recentemente.
Ele conta que a nova balada, ainda sem nome, que tocou no Brasil, deve ser a próxima música de trabalho da banda (Rascunho de Heart-Shaped Box). “A letra não está completa. Escrevi a parte final no dia do show, num pedaço de papel. E não sei onde foi parar. Nosso quarto é uma área de desastre.” Faz um pedido para que Courtney, sua esposa, cuidar para que todas as letras espalhadas sejam guardadas. “O novo disco vai ter três canções pop, muito calmas, mas também muita coisa barulhenta e agressiva. Será produzido por Steve Albini, então tudo soará muito cru, diferente de Nevermind.” O disco deve-se chamar I Hate Myself I Wanna Die. “Todos pensam que Nirvana é solidão, frustação, confusão e raiva, então achei divertido chamar o álbum assim.”
A estadia brasileira foi inspiradora. “Fiquei surpreso com o quanto escrevi aqui, 90% das letras do novo disco tinham sido destruídas em um acidente de encanamento no meu apartamento. Tive que começar tudo de novo. Mas estou acostumado com essa pressão, a escrever segundos antes de gravar o vocal e acertar a estrutura das canções apenas com o contato dos olhos no estúdio.” Nirvana é provavelmente a banda menos preparada que conheci. Kurt diz que as sessões no estúdio da BMG no Rio, com o engenheiro de som da banda, Craig Montgomery, foram ótimas. O equipamento era antigo, dos anos 60. Deseja: “Espero que nosso disco soe tão cru quando os demais”.
Minutos depois o humor do guitarrista é outro. “Desculpe, mas estou louco, todas as minhas letras se extraviaram de novo”, disse abatido antes de subir para o seu quarto, onde ficou até os seguranças o trazerem para baixo. Ao lado da mulher, foi o último a embarcar para o aeroporto. Encontrou as letras? “Não”, lamentou-se, entre um sorriso, simpatia e o choro vulnerável. I hate myself. I wanna die.
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